O Trilho Panorâmico do Tejo é um percurso linear, com cerca
de 10 Km. Podendo ser percorrido em ambos os sentidos, iniciámos o mesmo junto
ao Fluviário de Constância, do lado de cá da Ponte de Ferro sobre o Rio Zêzere.
Este percurso pode ser iniciado com uma visita à vila de Constância que se
encontra muito bem cuidada e merecedora disso mesmo. Como já lá tínhamos ido
anteriormente, há bem pouco tempo, dispensámo-lo, não porque não valesse a
pena, mas porque estávamos limitados no tempo.
Iniciámos por volta das 9h45. Este trilho é partilhado, em
algumas partes, principalmente neste início, com um circuito de BTT, podendo,
em alguns pontos se tornar perigoso. Não foi o nosso caso porque o alagamento
de algumas partes, devido ao aumento de caudal do rio Tejo, impossibilitava a
passagem das bicicletas.
Entre o inicio do percurso e a Ponte da Praia do Ribatejo,
cerca de 1 km, o trilho faz-se em single track, num troço que, para nós, é o
mais bonito do percurso e que, no verão, se torna no mais fresco. Passámos por
dois pequenos miradouros onde se pode admirar toda a vista panorâmica da parte oeste
de Constância, da sua zona ribeirinha, assim como a junção das águas do Zêzere
ao Tejo. Esta é também a zona de alguns pequenos troços de passadiços. Nesta
altura do ano não, mas a partir da primavera é possível ver o rio a encher-se das
cores florescentes dos caiaques que dali partem, aproveitando a corrente para
descerem até à Barquinha sem visibilidade de esforço.




A primeira Ponte da Praia do Ribatejo, onde chegámos passados
meia hora depois de termos posto pé ao caminho, foi mandada construir por D. Pedro V em 1862. Foi
a primeira construída sobre o Tejo e uma das maiores e melhores em linha de
caminho de ferro. Esta primeira, devido a problemas de segurança, foi substituída
em 1887 por uma outra mandada construir por Maison Eiffel. Em 1979 foi
desativada como ponte ferroviária tendo sido convertida em ponte rodoviária em
1988, apenas num único sentido o que obriga a alternância de circulação (fonte: https://mediotejo.net).
A partir daqui o caminho alarga-se e espreguiça-se na areia do rio que, passado novo quilometro, se esconde debaixo da água que tapou zonas antes secas. Ocorrência normal, ouve-se da boca do Sr. António, nestas alturas do ano. Este pequeno troço é característico das zonas largas do leito do Tejo, dando aqui e ali lugar a pequenas praias acompanhadas por grandes ninhos de cegonhas que se fazem ouvir num ruidoso bater de bicos que, nesta altura do ano, aguardam, em pares solitários, a época da reprodução entre março e abril.
O alagamento de zonas pedestres obrigou-nos a desviar o caminho plano para subir até a vila da Praia do Ribatejo. Uma pequena freguesia que já foi sede de concelho, que apareceu no foral de D. Manuel I em 1519, tendo posteriormente pertencido à Ordem dos Templários. Com uma população de 2.087 habitantes (site da freguesia) é cortada na ponta este pelo caminho de ferro da linha da Beira Baixa que, desde 1959, funciona em carris construídos sobre os mesmos pilares da ponte primeira.
Após percorrermos 300 metros paredes meias com a linha ferroviária, e depois de uma pequena conversa com o Sr. António sobre as dores do Tejo, voltámos a descer ao encontro do rio, no cais onde repousavam os barcos a indicar o retorno ao trilho panorâmico.
Entre este ponto e o Castelo de Almourol vão 3 quilómetros em ritmo de passeio descontraído onde nada se destaca, algumas coisas acontecem e as conversas se atualizam. Alguns passos a acompanhar a linha da CP e outros em caminho abundantes de caniços. Talvez seja a parte menos interessante do percurso, reforçada pela passagem na Fonte Galiana e ruinas do Convento da Nossa Senhora do Loredo, que apenas nos recordam a forma pouco cuidada e esquecida com que brindamos o nosso património histórico.
Almourol é o ex-libris deste trilho. Antecipado por carregados laranjais, surge por entre caniços seguidos de magníficos sobreiros. É sempre aquele quadro idílico entre a média Terra e o médio Tejo. Sem gentes de outros verões e forte corrente de água por todos os lados, acesso interrompido, as visitas com as vistas vão-se fazendo à navegação por alguns turistas, que os dedos de uma mão contam, e que por ali se enxutam na única barcaça que circunda para não se esquecer.
Em Almourol, a 5,5 km do ponto inicial, revela-se novamente os passadiços para nos afastar da água e nos levar à zona de piteiras e catos sem que os figos da Índia, ainda sem nos presentear com as suas flores amarelas ou laranja, não conseguem esconder o castelo.
O nosso percurso, por razões pessoais e porque a historia não tem nada para contar nos 3 km que faltavam até ao fim do trilho, quedou-se em Tancos. Ao todo foram 7,4 km percorridos em 2 horas e 45 minutos. Sem pressas, portanto. Em Tancos sentimos os constrangimentos da falta de coordenação entre entidades oficiais, publicas e privadas. Onde podíamos comer estava fechado e a vila não dispõe de serviço de táxi. Meio de transporte que não conseguimos arranjar aqui nem entre Vila Nova da Barquinha e Constância, para voltar ao Fluviário. Mesmo a ferrovia só após uma espera de 3 horas e já quando a noite se anunciava. Ainda assim a zona ribeirinha de Tancos merece uma paragem e uma oportunidade para merendar o que se leva (ou devia levar) na mochila. Ali mesmo com a vila ribeirinha do Arripiado à vista e que nos deixa nas costas, fora das vistas, o estado da Igreja Matriz. Fechada e cujo branco musgado exterior contrasta com as cores vivas do mural de arte urbana.



Os constrangimentos do transporte foram prontamente resolvidos pelo Sr. Pedro, paraquedista reformado que por ali se residenciou. Duas características, que lhe permitem adivinhar, nas caras desconhecidas dos que por ali passam, o que lhes vai na vida disponibilizando-se a levar-nos ao ponto de partida. Agradecimento, mais que merecido, que lhe fazemos. Pelo transporte, pela disponibilidade e por ter adiado a partida de cartas que, todas as tardes, joga com o grupo de amigos.
Acabámos a jornada a almoçar no "Recanto da Barquinha" um restaurante de comida indiana e africana onde comemos as melhores chamuças por nós conhecidas.
O Trilho Panorâmico do Tejo é um percurso agradável. Está bem sinalizado embora em alguns pontos pudesse ser melhorado. Não é necessário GPS já que a sua extensão é de fácil intuição até porque se faz entre o Tejo de um lado e a linha ferroviária do outro. O cuidado a ter é mesmo a logística na qual se tem de considerar a falta de alternativas de regresso.
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