A portuguesa “Rota dos Tuneis” passou definitivamente a “Camino de Hierro - Ruta de Túneles y puentes” porque está agora, irremediavelmente, concessionada à exploração e gestão espanhola. E ainda bem porque, nestas coisas e em tudo o que é património, os nossos vizinhos não brincam.
Estamos a falar dos 17 km da desactivada Linha do Douro, construída em 1887, totalmente percorridos em território espanhol. Esta linha de caminho de ferro que iniciava em Ermesinde e terminava em Barca D’Alva seguia para o lado espanhol, sobre o Rio Águeda, até La Fregeneda para dar lugar à rede ferroviária que ligava esta pequena vila a Salamanca. Está desativada desde 1985.
O risco do percurso foi substancialmente
reduzido com o melhoramento das travessias das pontes e a colocação de
protecção em madeira nalguns pontos críticos. Para além disso colocaram casas
de banho no 11ºkm e alocaram ao trilho recursos humanos e materiais que nos dão
uma sensação de segurança ao longo dos 17 km. O controlo das entradas é feito
na estação de Fregeneda, agora de cara lavada, dentro de um antigo vagão que,
não conseguindo fugir à modernidade, mostra-nos um equipamento de ar
condicionado a lembrar a importância das condições de trabalho. Ali, dois funcionários controlavam,
através da leitura do código QR, os bilhetes comprados online num grupo de mais de 50 que tinham destinado o dia para aquela experiência. No exterior, outros dois, explicavam boas práticas de utilização do percurso junto a um
carro de apoio adaptado para rolar sobre os carris em caso de emergência.
O trilho, iniciado em Fregeneda é sempre a descer pelo Barca
D’Alva era o ponto habitual de chegada para qualquer português que, deixando o carro na estação espanhola teria que pagar 25€ de táxi para o lá ir buscar. Agora termina no Cais Fluvial de Veja Terrón,
ainda do lado espanhol, onde está um autocarro que nos leva de regresso ao
ponto de partida e cujo transporte está incluído no bilhete de 5€, valor que também dá direito ao uso e abuso de uma pequena lanterna de mão, a ser devolvida no final depois de
utilizada nas passagens dos tuneis mais longos.
O percurso é, na verdade, de uma
beleza extraordinária que vale a pena ser percorrido, ainda mais agora, já sem
preocupações de risco. Fizemo-lo debaixo de algumas bátegas de chuva forte mas
que perante a soberba paisagem de um profundo vale, onde corre o rio Águeda,
nos foi indiferente. A construção de algumas pontes, considerando a sua altura, é
um desafio à imaginação e dificuldade de edificação mas um lugar fantástico
para nos recolhermos ao nosso pequenino lugar interior.
A passagem pelos 20 tuneis não
deixa nenhuma experiência extraordinária, mas cada um deles apresenta características
únicas que os diferenciam no lugar e que são unicos para quem gosta de
fotografar. Existem ainda assim duas curiosidades. Uma para o primeiro túnel com
uma extensão de 1km e cuja saída, por mais que andemos, parece nunca mais
chegar. A outra para o terceiro túnel onde reside uma colonia de 12.000 morcegos, segundo indicação do funcionário que se encontrava no
local a instruir-nos para a passagem. Este túnel tem uma extensão de 400m residindo ali um cheiro característicos
mas que não é, de todo, insuportável, pelo menos nesta altura do ano. Para quem não quer ali entrar, existe um caminho exterior alternativo cuja extensão é superior e que obriga a alguma resistência física face às variações de desnível.
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