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Cinco dias no País Basco

Foram cinco dias dedicados ao País Basco sempre com aquela memória da nacionalidade Euskal Hierra e da sua resistência histórica. Assim aconteceu na expectativa dos encontros com os lugares, as gentes e a cultura. De alguns gostámos de outros nem tanto. Com certeza que um conhecimento mais profundo das potencialidades culturais que a região oferece e, noutra altura do ano, teria sido diferente.

O planeamento do percurso teve por base regiões e pontos de referência turística. A ideia foi formar uma opinião generalizada sobre o território e as gentes condicionado ao tempo disponível. Como em todas generalizações perde-se o essencial mas ainda assim ficámos a saber de onde gostámos de estar e de regressar e onde não voltaremos.

1 - La Rioja


La Rioja faz fronteira com o País Basco mas decidimos que valia a pena dedicar-lhe um dia e em boa hora o fizemos.

Atravessámos Portugal direito a Elciego onde pernoitámos. Esta comunidade autónoma situa-se no Vale do rio Ebro e faz fronteira a norte com o País Basco. Ironicamente fez-me lembrar o Douro vinhateiro espalmado, sem a pressão mediática das grandes casas produtoras e sem o controlo da "mão invisível" do instituto da vinha e do vinho. É a região das pequenas “bodegas” privadas que permitem que os cerca de 14.800 pequenos produtores comercializem e deem a conhecer o seu produto. Há-as ás centenas em todas as vilas que visitámos.
 
Esta não foi, decididamente, a melhor altura para se visitar esta região. Temos a certeza disso ao imaginar a mudança de cor daquelas vinhas a perder de vista por alturas do outono e o movimento da produção vinícola. Para além disso, toda a parte exterior ao vale do rio Ebro é caracterizada pelas grandes extensões de prado obrigando a atravessar imensas de um amarelo seco da palha que se transformará em verde carregado depois das primeiras chuvas.

Este foi o percurso planeado para o primeiro e segundo dia.


Uma saída madrugadora permitiu, depois de percorridos 800 km nas calmas,  visitar o estranho Hotel Marquês de Riscal situado na vila de Elciego. Este hotel de luxo que também produz a sua marca de vinho merece uma visita face à sua excentricidade arquitetónica. Inicialmente fomos barrados pelo segurança que filtrava o acesso à quinta na ponte medieval que lhe dá acesso e onde, por ali, só os clientes do hotel podem aceder. Ainda assim, tentámos pela loja e depois de abordar uma das funcionárias lá nos permitiram entrar sob compromisso de irmos ao bar do hotel consumir alguma coisa. Compromisso que os sorrisos descomprometidos de ambos os lados não vincularam.
O hotel é rodeado por extensas vinhas pejadas de uvas que aguardavam o despejo na adega, agora fechada, mas que a quantidade de tonéis no exterior adivinhava movimentos futuros próximos. A alguns pequenos grupos guiados era-lhes contado a historia do local.
Não entrámos no hotel porque o interesse estava naquela estrutura e nas suas diferentes perspetivas.






A tarde apresentava-se inquieta e ainda nos convidou a continuar o passeio. Visitar Laguardia ali a apenas 8km adivinhou-se-nos. Vivida dentro das muralhas do castelo, esta foi para nós uma visita imperdível. O miradouro dá-nos uma visão ampla de todo o vale da Rioja Alavesa. 

De todas as vilas visitadas nesta zona foi a nossa escolha favorita. Ruas estreitas enfeitadas por inúmeros vazos de flores convidam ao deslumbramento. As baixas e largas portas maciças dividem e escondem a comunidade residente das fotografias de quem passeia. Pequenas esplanadas convidam a um final de tarde relaxante. Fizemo-lo na companhia de um branco rioja e de uns pintxos. Na mesa ao lado uma espanhola não se calou enquanto degustávamos mas também não estorvou o descanso.








São muitas as vilas medievais que a província guarda e mantém cuidadosa e orgulhosamente bem cuidadas. 

Na impossibilidade de visitar todas num dia apontámos às que, ao abrigo de alguma leitura antecipada, nos pareceram mais interessantes. Foram estas as que escolhemos e que percorremos no segundo dia:

Elciego:



Briones:




Labastida:




Briñas:




San Vicente de La Sonsierra:




Haro:




Cellorigo:




Dispenso-me de comentar individualmente cada uma delas deixando apenas fotos a documentar.  Liga-as uma zona central histórica antiga ao redor da qual a comunidade se desenvolve. Muito bem preservadas, cuidadas e limpas permitem o descanso e contemplação a quem as visita nas muitas esplanadas que os pequenos largos oferecem. Sentámo-nos em algumas a deliciar um copo de vinho. Podíamos ter escolhido outras que a ligação ao ambiente medieval seria o mesmo. 

Deixámos o fim do dia para a cidade de Vitoria-Gasteiz já em País Basco cuja densidade populacional nada tem a ver com os destinos anteriores. Os pequenos centros medievais deram lugar a um imponente património religioso cristão. É uma cidade muito vivida com forte implementação na utilização da bicicleta. Percorremos a zona histórica desligados e fizemos caminho direito a Portugalete.

Vitoria-Gasteiz




2 - Gorbeia

Durante a permanência no País Basco estabelecemos Portugalete como ponto de referência de saída e chegada. Para além da lindíssima Ponte do Biscaya a cidade deu-nos uma lição sobre como se gere uma cidade a pensar no bem estar de quem lá vive e a visita. Mais á frente falaremos disto.

Neste terceiro dia a ideia foi visitar a zona do Monte Gorbeia e das suas florestas de faias centenárias únicas no mundo. Sempre com a noção de que não iriamos  conseguir ver tudo planeámos duas caminhadas por trilhos pedestres mas acabámos por fazer apenas uma, a Hayedo de Otzarreta, a que dedicámos a maior parte do tempo.


A saída de Portugalete iniciou-se pela cidade de Orozko em próxima paragem. Atravessada pelos rios Altube e Arnauri pareceu-nos que vivia a tranquilidade que antecede a floresta que a circunda. Ainda assim o pouco caudal dos rios desvalorizou a zona pedonal que a circunda.

Orosko: 





Daqui fomos directos para o ponto de inicio da caminhada que nos permitiu penetrar no parque natural de Gorbeia e percorrer as famosas florestas de faias. Demorámos cerca de 3 horas a percorrer os 8,9 Km e que permitiu respirar Gorbeia em toda a sua frondosidade. 
Fotos e mapa do trilho pode ser visto aqui: 

Depois da caminhada e almoço o dia trouxe nuvens baixas pelo que decidimos não subir à Cruz do Monte Gorbeia o ponto mais alto da cordilheira por razões legitimas de visibilidade nula. Toda a zona sul do percurso é efectuada por terrenos planos e de pasto que nesta altura estão carregados com a cor amarela do verão e de fardos de palha. Passámos pelas vilas de Acosta e de Etxabarri sem parar regressando mais cedo a Portugalete mas com as células (re)oxigenadas.
Retirando o passeio pedestre todo o resto do percurso é dispensável. Talvez por ser Agosto as vilas pareceram-nos sem interesse tanto paisagístico como cultural. No entanto toda a zona é retalhada por percursos pedestres e viam-se caminhantes entusiasmados. 

3 - URDABAI (reserva da biosfera)



A ideia para este quarto dia foi percorrer a costa basca começando pela famosa capela de San Juan de Gaztelugatxe.
Também em Espanha nesta altura o litoral está literalmente a abarrotar o que condicionou muito a nossa curiosidade. As praias estavam cheias e o trânsito caótico. Valeu a experiência única de atravessar o Biscaya pela ponte móvel desembarcando em Guetxo e seguindo dai pela costa.

O acesso à igreja de Gaztelugatxe estava interdito impossibilitando a subida daquela escadaria para tocar o sino e aproveitar toda a sua beleza. Compreendemos a decisão face à quantidade de pessoas que visitam o local neste período de férias. As expectativas eram altas e ficámos desiludidos mas ainda assim o local é lindíssimo e digno de ser visitado.




A próxima paragem foi em Bermeo onde dedicámos mais tempo e almoçámos. Bermeo é uma referência nas cidades do litoral basco, muito bonita e digna de paragem mas que face ao aglomerado turístico não pudemos apreciar como gostaríamos. A ideia que temos é que todas as povoações do litoral vivem muito a ligação ao mar cuja centralidade se fixa à volta de marinas e portos de pesca artesanais. Aqui a largura da parte urbana antiga dá-lhe uma característica especial. 
O fluxo de veraneantes não permitiu a exploração das vilas que tinhas planeado visitar face ao trânsito caótico, nomeadamente Mundaca, Elanchove, Ibarrangelu e Lequeitio e passámos por elas sem parar depois de circundar a caracteristica zona lagunar de Urdabai.
Urdabai é património da biosfera declarado pela UNESCO em 1984 que envolve a bacia do rio Oka criando pântanos e abrigando uma biodiversidade enorme de animais e plantas. Para além das vilas indicadas existem pontos de referência turística e cultural como é o caso do bosque pintado de OMA que por se encontrar fechado também não pudemos visitar.
Condicionados por tudo isto, decidimos rumar para Guernica y Luno cheios de pena por não termos imergido ali. Ainda assim fomos saborear um gelado à famosa praia de Laga da qual dizem ser a melhor de toda a Biscaya.



Guernica y Luno surpreendeu-nos pela positiva. Com uma historia de luta contra a opressão do regime nazi e uma posição determinante na guerra civil espanhola a cidade respira o orgulho nessa resistência e permite visitas guiadas a esse património. Gostámos de a visitar.





O quinta dia foi dedicado a duas cidades: Hondarribia e San Sebastien



Se tivéssemos de escolher apenas uma das cidades visitadas teria sido Hondarribia. Tínhamos ideia de visitar o Cabo Higuer (o mais oriental de toda a península) mas estivemos tanto tempo a saborear a cidade que deixámos para outra vez. Em Hondarribia vive-se dentro do castelo medieval onde um centro histórico muito bem preservado convida à contemplação. Casas cheias de flores, de linhas direitas e janelas simétricas, a cidade é um lugar para se estar e desfrutar. A zona pedonal perto do porto é também de uma beleza típica e de uma aprazível ligação das cores que preenchem as varandas de madeira aos vazos em flores que as decoram. Gostámos muito de ali estar.  









San Sebastien ficou aquém das expectativas. Muito voltada para o turismo lembrou-nos as cidades do leste europeu devido aos edifícios austeros. Nem as duas belas praias nos cativaram. Com transito muito limitado, tivemos de deixar o carro a cerca de 2 km do centro da cidade tal era a confusão e o custo de parqueamento. Voltada para o comercio existem lojas de marca por todo o lado. Das publicações que consultámos, todas sem exceção, referiam em primeiro lugar percorrer a zona velha a comer pintxos. Não fomos, não só porque não somos apreciadores mas principalmente eram tantas as pessoas naquelas ruas estreitas que desistimos. Ainda hoje nos perguntamos a razão de centenas de pessoas ocorrerem naquele local para comer coisas em cima de um bocado de pão. Por demasiado mercantilista nem visitámos o Monte Urgul de onde se vê a cidade numa perspetiva de 360º.





Tirámos a manhã do sexto dia para nos despedirmos de Bilbau para onde nos deslocámos de metro desde Portugalete. Como não podia deixar de ser começámos pelo Guggenheim e fomos até à zona velha (casco viejo) percorrendo a margem do Biscaya onde passámos toda a manhã e almoçámos. 






Uma última palavra para a boa surpresa que foi Portugalete Para além da única ponte móvel no mundo a cidade mostrou-nos como é possível o desenvolvimento de um aglomerado voltado para o bem estar dos cidadãos. Uma extensa zona de lazer e desportiva na margem do Biscaya e acesso fácil a meios de transporte regulares e baratos permitem aos residentes, e a quem a visita, uma qualidade de vida a que não estamos habituados por cá.




Ao fim de 6 dias regressámos não sem antes passar por Somiedo para fazer a Ruta de La Xanas. È que para nós nada se compara às Astúrias.
Percurso e fotos podem ser vistas aqui:




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