Nas caminhadas que fazemos encontramos pessoas com uma disponibilidade extraordinária e esta estória não podia ser contada com outro sentido que não fosse de agradecimento.
Nesta manhã fomos fazer o Trilho da Pombeira. Saímos da Igreja da Nossa Senhora dos Remédios em Lamelas de Cá decididos a fazer os 10,3Km do trilho. Sem razão a justificar, começámos a caminhada no sentido contrário aos ponteiros do relógio atravessando Lamelas de Cá para Lá.
A cerca de 2km surgiu bem de frente a Cascata da Pombeira a mostrar uma queda brutal do Rio Pombeiro com a aldeia do Codeçal bem visível acima das nossas cabeças ao alto da Serra de Montemuro.
Íamos em caminho de pé posto quando, em sentido contrário ao nosso, passou o Nuno em passo de corrida empurrado pela alegre disposição do seu bom dia. Depois de 50 metros adiante, retornou-se-nos e perguntou: “Vocês que andam ai a tirar fotografias não querem que vos leve a um sítio onde ninguém vai e que é lindíssimo? Fica ali na base da cascata”. Lá atrás já tínhamos imaginado e desejado aquele sítio que parecia esconder-se propositadamente no final de um carreiro que estreitava na distância. “Não é esse o caminho, está a ver aquele lameiro? Vamos até lá e a partir dali é só seguir a levada”. Depois de algumas trocas de orientações, julgando que nunca encontraríamos a imagem que tinha na cabeça, disse “eu levo-os lá!” insistindo sempre que contrariado. E lá nos levou por aquela ingreme descida, contando a sua infância naquele lugar, em tão boa disposição que até se foi esquecendo de perguntar acerca de nós. Descemos cerca de 1,5 km e entre a conversa do Nuno e os recursos acrobáticos entre pedras e estreitos fui também contando alguma da nossa história para não ficar em divida.
As bases das cascatas são sempre lugares de silêncios e de transparências. Esta não era diferente e ofereceu-nos, tal como o Nuno nos prometeu, um estado de sítio perfeito.
“No verão nunca está aqui ninguém e venho com a minha
mulher e os meus filhos. Eles gostam de nadar ali naquela lagoa das duas quedas
de água. A da esquerda é gelada e a da direita é quente”. “Estão a construir ali
uma via ferrata desde aqui em baixo até ao cimo” e apontou-nos umas escadas em
ferro, unidas por cabos, cravadas na pedra vertical. “Vamos perder o sossego”.
Juntei-me ao lamento.
Depois de termos estado ali o tempo suficiente para apreciar o lugar, tirar fotografias e do Nuno me ter ajudado a subir pedras que dificilmente conseguiria sozinho, lá começámos o regresso pelo mesmo caminho. Depois de insistir para que continuasse a corrida, sem mostrar pressas lá foi, não sem antes me deixar o número de telemóvel, nos aconselhar um restaurante onde servem um arroz de feijão e salpicão de um outro mundo e nos confessar que nos acompanhou porque tinha saudades daquele lugar.
Se para baixo todos os santos ajudam para cima todos
dificultam, o declive do regresso ao trilho marcado fez-se à custa de nos
sentarmos a espaços.
Seguindo caminho fizemos o desvio de 600 metros para
visitar novamente a cascata, desta vez, numa perspetiva comum e não tão
única como a que o Nuno possibilitou. O caminho estreito, percorrido na meia
encosta, leva-nos às ruinas dos Moinhos da Pombeira montados entre escadas e precipícios
graníticos que alimentam a nossa imaginação e nos fazem questionar da razão de
terem sido construídos em tão inusitado local.
Desassossegados pelo arroz de salpicão e pelo cansaço autorizamo-nos a regressar antecipadamente ao ponto de início deixando grande parte do trilho sinalizado por fazer. Um dia havemos de lá voltar para o acabar mas principalmente para visitar o Nuno.
Restaurante Típico de Mezio
https://pt.wikiloc.com/trilhas-trekking/moinhos-da-pombeira-castro-daire-72007333
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