A Amieira do Tejo é uma pequena aldeia no Alto Alentejo que tendo já sido sede de concelho no século XIX conta hoje com menos de 300 habitantes. Terra de passagem, a sua história está ligada à estação de caminho-de-ferro da Barca D’Amieira onde uma doca permite fazer a travessia entre margens. A sua origem remonta ao tempo dos Lusitanos tornando-a numa terra cheia de lendas. Diz-se que naquelas casas se tecia o linho mais fino e por onde uma velha moura passeava distribuindo moedas de ouro às mães mais necessitadas.
As lendas mais assombrosas que se contam em Amieira do Tejo são sobre as Jans, fadas que teciam o linho do mais fino e sem nós, durante todas as noites. Iniciámos o Trilho da Jans, não de noite, mas pouco passava das 9, numa manhã bastante fria com nevoeiro ao fundo que ocultava o Tejo e fazia sobressair a Serra de Gardete.
Vila Flor uma pequena povoação mais antiga do que Amieira do Tejo sofreu enorme desertificação nos últimos tempos residindo nela apenas 3 famílias. A aldeia tem uma capela única em Portugal, um pequeno quadrado fechado ao exterior, de linhas direitas, construída dentro das ruinas da antiga Igreja Matriz mantendo um vinculo entre o passado e o presente. Estranhámos um pouco o local mas é um projecto que cumpre a vontade das gentes que ali vive.
Uma característica deste Trilho de Jans é a passagem por terrenos privados vedados em arame farpado a fim de guardar o gado que se faz pastar. Diversas cancelas permitem a passagem ao longo do percurso sinalizadas com um letreiro que diz "mantenha a cancela fechada depois de passar". Após Vila Flor encontrámos a primeira que se apresentou sem a possibilidade de se transpor de tanto arame que a armava, viemos a saber, por causa de trazer ovelhas soltas. Este contratempo obrigou-nos a voltar atrás e encontrar alternativa fora das marcações o que conseguimos com a ajuda do Sr. Álvaro, apicultor, que nos deixou atravessar a sua propriedade para irmos ao encontro do trilho marcado mais à frente, onde nos certificámos que o rebanho solto era guardado por um guizo pendurado ao pescoço de um desconfiado rafeiro alentejano cujo olhar só nos deixou depois de passarmos os limites da sua guarda.
Após este percalço, que nos acrescentou 3km ao total andado, a profundidade irregular do Alto Alentejo apresentou-se-nos de um verde vivo só possível em Dezembros chuvosos, de espaços largos e folgados entre retorcidos sobreiros antigos que os muros de pedra e arame farpado teimavam em manter-nos dentro das marcações pedestres bem visíveis.
Ao oitavo quilometro a Barragem do Fratel apresentou-se-nos, lá em baixo, na sua totalidade mostrando o novo passadiço, ainda não estreado, do Trilho da Barca D'Amieira. Estávamos 170m acima e tínhamos que cair até aos 14m. Foram 700 metros numa descida de inclinação bastante acentuada que, embora tecnicamente pouco exigente, exigiu segurança em ritmo lento e cauteloso.
Finalmente chegámos ao Tejo.
Daqui até ao Miradouro Transparente do Tejo (Sky Walk) é cerca de um quilometro todo em passadiço a que não falta a adrenalina de uma ponte suspensa. Pelo meio descansámos para comer no Miradouro da Ribeira do Figueiró que corre desde o Sitio da Mourela, entre Alpalhão e Nisa, para aqui afluir não sem antes contornar um meandro retorcido e bem apresentado.
De regresso, iniciámos a parte mais bonita do trilho que se faz ao longo da margem sul do rio por cerca de três quilómetros e meio, percorridos em cima do chamado "muro de sigra" que lhe segue paralelo até Barca D'Amieira. Esta linha permitiu em tempos remotos a tração dos barcos que subiam o Tejo rebocados por cabos de sisal (chamados de sigra) a partir da margem em zonas onde a corrente era muito forte. Na outra margem a linha de caminho de ferro acompanhou-nos os movimentos.
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