A volta à península de Peniche é sempre um passeio de que nunca me canso.
Seja pelas marés, pela passagem das diferentes embarcações, seja pelos ventos
que me levam as palavras. O horizonte parece, de todas as vezes, diferente.
Desta aportei ao porto de pesca. Foi a primeira vez que lá entrei para ver
os barcos. Antes tinha lá ido apenas uma outra única vez mas em trabalho. A
expectativa não era sobre cheiros ou movimentos atarefados, a hora tardia a
isso não o fazia esperar. Tal como aqueles que passaram a noite ao largo, os
barcos adormecidos recuperavam para retomarem no dia seguinte a rotina à muito alinhada.
Hoje Peniche deverá ser mais conhecida pelo circuito mundial de surf do que
pela frota pesqueira. Indiferentes a isso, as redes continuam a ser remendadas.
«….estás a por em risco a tua família, tens de pensar na tua mulher e nos
teus filhos…..» ouvi de passagem. Raramente me lembro dos pescadores. No
momento incomodei-me com isso mas a plenitude do lugar escondeu-me a difícil
vivência destas gentes com a água salgada e mostrou-me apenas o bronze que lhes
coloca na pele. O medo marca-lhes a alma e as crenças a certeza de um regresso
a bom porto. Deve ser assim a fazer fé nos artefactos e nos nomes que lhes põem
para afastar a má sorte.
Dali, avista-se Peniche, a barra, a Marina da Ribeira e o imponente forte
habituado a exercer uma vigia constante. E a Igreja de S. Pedro, escondida por
detrás dos telhados deixando apenas visível a sua torre sinaleira.
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