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Piodão à mesa no "Solar dos Pachecos" (12/05/2018)

A tabuleta dizia “Restaurante”.
O espaço, exíguo, era preenchido por seis mesinhas que se destacavam pelos seus tampos irregulares, de carvalho, que ao se agruparem deixavam espaços perigosos para o serviço rústico, castiço, que nos servia o repasto. A decoração, complexa mas humilde, escondia as paredes e parecia apertar ainda mais, destoando-lhe o lcd que se esforçava por nos entreter com música dos anos oitenta a que ninguém parecia ligar. O balcão, cinzento escuro, da cor do xisto e do queimado a perder de vista da Serra do Açor, era o prolongamento das garrafas de vinho de marca que envelheciam ao primado do tinto maduro, avulso.
A casa estava cheia mas ouvia-se bem, da cave, o toque do sino cozinheiro a informar que havia pratos prontos a sair, ao que logo de seguida surgia o empregado empurrando as ementas com destino às mesas, em pratinhos, onde as peças se escondiam deixando-se descobrir depois de comidos os acompanhamentos.
- Pode-se arranjar um prato só de salada? Não servimos pratos só de salada, mas se deseja um arranja-se já.
Fiquei sempre com a impressão que as escadas eram mais compridas do que o percurso até às mesas.
Veio a salada e disse: - Este deve ser o único sítio de Portugal onde não se está a ver o festival da canção. O empregado sorriu e demorou mais três segundos do que o normal a responder: - se deseja muda-se já o canal.
Soube, no dia seguinte, que Israel tinha ganho com uma canção marcada de um simbolismo pela diferença o que parece ser uma provocação às comemorações do estado judaico. Nós não ganhámos o euro festival, mas tivemos por cá os joelhos de Andréa Boccelli em Fátima e a irmã de Ronaldo no jogo do Marítimo-Sporting, que por si só reforçam orgulho nacional.
E a simpatia do empregado do restaurante a perguntar a importância de tudo isto.





















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