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Aldeia da Pena


Cá do alto tudo parece igual. A estrada mantém-se íngreme e estreita interrompida no olhar apenas pelas árvores que escondem os ziguezagues das curvas apertadas. A cor negra dos telhados contínua uniforme sem se deixar destoar. Descubro mais á frente que me falta o nevoeiro e o frio. O sol e a frondosidade das árvores diminuem a rudeza do caminho e a importância do espaço.
As filhas do casal que ali explora o único restaurante mantêm-se sentadas exactamente no mesmo canto a fazer diferentes trabalhos de casa igualmente em cadernos exemplarmente escritos e conservados como se o tempo tivesse parado entre as minhas memórias, uma coincidência que me faz sentir dois anos mais novo. A antiga porta estreita foi trocada por uma frondosa abertura que melhor deixa passar o sol e, talvez por isso, tenha sentido a falta do nevoeiro que ao ir-se embora levou consigo os enormes garrafões de vidros que conservavam e exibiam as chouriças em azeite.
Aqui e ali dou conta das disputas que se trava entre o ancestral e o hodierno, a indiferença dos animais e os vincos do homem do mel que me confidencia que o melhor é mesmo o de urze e queiró não me deixando perder nas falsificações que por aí andam. Hei-de regressar nem que seja para ver se o novo restaurante vai manter a estreiteza do caminho e as dificuldades para lá se chegar.

06/07/2019













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